Capítulo
III
Saiu
sem rumo, mas decidida a não voltar a casa antes de anoitecer. Não queria
voltar a vê-lo. Naquele dia? Ou para sempre?
Entrou no carro e saiu do carro dois segundos depois. Não estava em condições para conduzir. Ligou aos pais a dizer que não podia jantar com eles naquela noite. Sim, sim, tinha um jantar a dois combinado com o João – concordaria com qualquer coisa que eles quisessem ouvir naquele momento.
Estava esfomeada. Pegou nos bagels que ele lhe tinha trazido e deitou-os no primeiro caixote do lixo que encontrou à frente: preferia morrer subnutrida a provar aquele pequeno-almoço envenenado (bagels em troca de sossego). Quis entrar na primeira pastelaria da esquina, mas ainda estava muito perto de casa. Muito perto dele.
Continuou a andar sem destino até deixar de reconhecer as ruas. Até ter de ligar o Google Maps no telemóvel para saber onde estava. Até descobrir que tinha a bateria demasiado baixa para ter a ajuda de qualquer aplicação.
Desistiu de querer saber de si. Estava perdida na vida, porque não deixar-se perder na geografia? Viu um café a poucos metros e entrou. Era um daqueles da moda por ser fora de moda. Um espaço pequeno com as cadeiras todas diferentes e candeeiros reciclados. Latas velhas com flores a fazer de centro de mesa. Posteres de publicidade antiga a fazer de quadros, nas paredes coloridas. Um quadro de giz enorme com o menu do dia (de sempre?).
O rapaz jovem atrás do balcão também era daqueles “da moda”. Barba por desfazer, cabelo desalinhado, óculos de massa, demasiado grandes para a cara. Um avental à frente da camisa de xadrez. iPhone no bolso de trás das calças com o auricular a chegar-lhe a um dos ouvidos. Chegou ao pé dela sempre com os olhos postos no bloco onde ia anotar o pedido.
- Bom dia. É o menu brunch?
Claro. Só podia.
- Bom dia. O que inclui esse menu?
Ele tirou um menu em cartão do bolso do avental. O brunch ilustrado. Falar devia estar fora de moda. Aliás, podia vê-lo a abanar a cabeça ao som da música que lhe chegava ao ouvido esquerdo.
Portanto saiu de casa onde era ignorada pelo namorado, para ir a um café de bairro ser ignorada pelo empregado. Saltou-lhe a tampa.
- Desculpe, mas isto é maneira de atender os clientes? – o volume de voz bastante inapropriado. – Estou farta! Percebeu?? Farta. Olhar para mim é um custo? E falar em vez de me mostrar papéis!! E ouvir o que estou a dizer??!!
Nisto, puxa-lhe o auticular do ouvido, mas o que salta é a outra ponta e o iPhone experimenta o chão com toda a força.
Entrou no carro e saiu do carro dois segundos depois. Não estava em condições para conduzir. Ligou aos pais a dizer que não podia jantar com eles naquela noite. Sim, sim, tinha um jantar a dois combinado com o João – concordaria com qualquer coisa que eles quisessem ouvir naquele momento.
Estava esfomeada. Pegou nos bagels que ele lhe tinha trazido e deitou-os no primeiro caixote do lixo que encontrou à frente: preferia morrer subnutrida a provar aquele pequeno-almoço envenenado (bagels em troca de sossego). Quis entrar na primeira pastelaria da esquina, mas ainda estava muito perto de casa. Muito perto dele.
Continuou a andar sem destino até deixar de reconhecer as ruas. Até ter de ligar o Google Maps no telemóvel para saber onde estava. Até descobrir que tinha a bateria demasiado baixa para ter a ajuda de qualquer aplicação.
Desistiu de querer saber de si. Estava perdida na vida, porque não deixar-se perder na geografia? Viu um café a poucos metros e entrou. Era um daqueles da moda por ser fora de moda. Um espaço pequeno com as cadeiras todas diferentes e candeeiros reciclados. Latas velhas com flores a fazer de centro de mesa. Posteres de publicidade antiga a fazer de quadros, nas paredes coloridas. Um quadro de giz enorme com o menu do dia (de sempre?).
O rapaz jovem atrás do balcão também era daqueles “da moda”. Barba por desfazer, cabelo desalinhado, óculos de massa, demasiado grandes para a cara. Um avental à frente da camisa de xadrez. iPhone no bolso de trás das calças com o auricular a chegar-lhe a um dos ouvidos. Chegou ao pé dela sempre com os olhos postos no bloco onde ia anotar o pedido.
- Bom dia. É o menu brunch?
Claro. Só podia.
- Bom dia. O que inclui esse menu?
Ele tirou um menu em cartão do bolso do avental. O brunch ilustrado. Falar devia estar fora de moda. Aliás, podia vê-lo a abanar a cabeça ao som da música que lhe chegava ao ouvido esquerdo.
Portanto saiu de casa onde era ignorada pelo namorado, para ir a um café de bairro ser ignorada pelo empregado. Saltou-lhe a tampa.
- Desculpe, mas isto é maneira de atender os clientes? – o volume de voz bastante inapropriado. – Estou farta! Percebeu?? Farta. Olhar para mim é um custo? E falar em vez de me mostrar papéis!! E ouvir o que estou a dizer??!!
Nisto, puxa-lhe o auticular do ouvido, mas o que salta é a outra ponta e o iPhone experimenta o chão com toda a força.
Post mensal escrito pela blogger Maria do blog «Maria das
Palavras» (http://daspalavras.blogs.sapo.pt/) em parceria com este blog!
Se fosse educado nada disso acontecia!
ResponderExcluirBjxxx
Ahahahahahaha
ResponderExcluirAdorei! Agora, será que vai ter que lhe pagar o conserto do Iphone? (tinhas que meter um Iphone ao barulho, não tinhas?)